Ontem a ouvir um programa de televisão da RTP1 (“Prós &
Contras”), acerca do turismo na grande cidade de Lisboa, uma senhora de venda
ambulante dizia, numa linguagem codificada própria de varina, que estamos a “vender
a alma ao diabo”, em relação à proliferação desgovernada e descaracterizada da
restauração ambulante que emerge por tudo o que é sitio.
Como sempre somos de “modas”, o que está a dar é a “comida
de rua”, toca a fazer fóruns, feiras, showrooms, franchisings de tudo e mais
alguma coisa, sem estar provado, nem testado, vamos para a rua fazer comida
gourmet…
Lisboa é uma cidade
histórica, se calhar das únicas capitais da Europa que escaparam ao holocausto
das grandes guerras. Única, desorganizada, com vida e personalidade de um velho
acabado, mas com sabedoria infinita. É urgente ouvir a cidade, ouvir os seus murmúrios
e também as vozes mágicas dos poetas que falaram.
Agora é o momento, era o que a senhora de venda ambulante
gostaria de dizer. A cidade vai receber muitos turistas porque está na moda,
mas a moda é temporal…e depois o que fica? Como fica o Lisboeta, o principal
actor da cidade, aquele que dá vida a todo o teatro, onde estão as heranças
culturais, aquelas que deveriam ser REINVENTADAS? E, não INVENTADAS?
O que a senhora de venda ambulante defendia é que durante as
épocas baixas quem compra não é o turista, é o habitante local, que está ou
envelhecido ou a deslocar-se para fora da cidade.
O turista, pelo menos falo por mim, quer conhecer o povo e
os seus costumes (como diz o ditado: “Em Roma sê romano”). Não quer sentar-se a
um restaurante e comer o menu Lisboeta: hamburger com chouriço e cebola…mas
quer comer uma bifana, tremoços, chouriço assado alentejano…de preferência num
largo com chafariz e água a correr.
Reinventar, é mais difícil (tem de se estudar mais o passado
e aplicar novas técnicas, ser humilde, ter orgulho nas raízes…). Os alfacinhas,
tinham por hábito a venda de frescos e vinho (frutas, legumes, peixe do dia,
tudo apanhado na hora e num raio de 20km da cidade, seja a origem mar ou
pequenas hortas-cada uma com a sua especialidade). Porque o Lisboeta gostava de
cozinhar e petiscar a toda a hora.
Vejo muitas grandes cidades americanas a inventar, mas isso
é porque são de um país novo e grande em que tudo se inventa, mas no fundo são
sempre cópias do que já se faz na Europa…a sustentabilidade é de facto a grande
moda, mas será que é uma moda ou uma modalidade que se praticará daqui em
diante?
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